O Eco das Sereias
Na vila de Taryn, onde o oceano se estendia até o infinito e as lendas se misturavam com a brisa salgada, vivia uma jovem pescadora chamada Elara. Desde pequena, ela ouvia histórias sobre as sereias—criaturas encantadas que podiam cantar a verdade e enganar corações. Mas, para Elara, sereias não passavam de mitos contados por velhos pescadores ao redor das fogueiras noturnas.
Certa noite, durante uma tempestade feroz, Elara encontrou algo incomum na margem da praia: uma jovem de cabelos azulados e pele reluzente jazia entre as algas, ferida e exausta. Seus olhos, de um verde profundo como as profundezas do mar, se abriram lentamente ao sentir o toque cuidadoso da pescadora.
— Quem é você? — Elara sussurrou, impressionada.
A jovem não respondeu de imediato. Em vez disso, ergueu o corpo com dificuldade, revelando a verdade: abaixo da cintura, sua pele se transformava em escamas iridescentes, formando uma cauda longínqua e grácil. Uma sereia. Uma criatura dos contos que Elara jamais acreditara serem reais.
— Meu nome é Nerina — murmurou a sereia, sua voz suave como o murmúrio das ondas.
Com compaixão, Elara levou Nerina para sua cabana, escondendo-a dos olhares curiosos da vila. Ela cuidou dos ferimentos da sereia com ervas medicinais e banhos mornos de água salgada. Com o tempo, as duas criaram um vínculo que transcendia o medo e a dúvida. Cada gesto, cada olhar trocado era carregado de uma cumplicidade crescente. Nerina contava sobre os reinos submersos e as melodias encantadas que sua espécie entoava, enquanto Elara falava sobre a vida simples dos humanos e seus sonhos de liberdade.
Mas a felicidade das duas estava ameaçada. A vila possuía caçadores que acreditavam que as sereias eram um perigo. Alguém havia avistado Nerina antes da tempestade e agora espalhava rumores. Elara sabia que, se a encontrassem, a sereia estaria condenada.
Numa noite silenciosa, um grupo de homens armados surgiu na praia, tochas em mãos e intenções hostis. A vila inteira se reunira para caçar a criatura marinha. Elara, com o coração disparado, segurou a mão de Nerina e sussurrou:
— Eu não vou deixar que te machuquem.
Juntas, elas correram para a beira do mar, mas foram encurraladas pelos caçadores. Nerina, mesmo enfraquecida, ergueu a voz em um canto poderoso. A música reverberou pelo ar, e as ondas responderam ao chamado. O oceano se ergueu, protegendo as duas amantes, afastando a vila com sua fúria.
Antes que pudessem ser separadas, Elara tomou uma decisão. Segurou Nerina com força e, sem hesitar, mergulhou no mar. A água as envolveu como um abraço, e, sob a superfície, algo extraordinário aconteceu. As escamas de Nerina brilharam intensamente, envolvendo o corpo de Elara. Quando a pescadora abriu os olhos, viu que sua pele também reluzia. Ela podia respirar, podia sentir o mar chamando-a.
A lenda de Elara e Nerina foi contada por gerações na vila de Taryn. Alguns dizem que, em noites de lua cheia, se escuta um canto doce vindo do oceano, um eco das sereias que um dia escolheram o amor acima de tudo.
E assim, nas profundezas do oceano, duas almas apaixonadas continuaram sua história, livres para sempre.
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