Paris, 1789
O ar em Paris estava carregado de tensão. Os preços do pão subiam mais que os salários, e o povo murmurava contra a nobreza e o rei Luís XVI. Entre as ruas estreitas e os becos sujos do Quartier Saint-Antoine, um jovem chamado Étienne Morel trabalhava como aprendiz de um livreiro, sonhando com um mundo mais justo.
Étienne, de apenas dezoito anos, não era um nobre, nem um camponês—era um dos muitos parisienses que viviam na penumbra entre a miséria e a esperança. Seu pai, um sapateiro, havia morrido no inverno anterior, vítima da fome e do frio. Sua mãe, costureira, trabalhava até os dedos sangrarem para manter o pequeno apartamento onde viviam.
Tudo mudou naquela manhã de 14 de julho.
O Chamado dos Canhões
Os boatos corriam como fogo. O povo estava se armando. A Bastilha, símbolo do poder real e da opressão, seria tomada. Étienne, com o coração batendo forte, juntou-se à multidão que avançava em direção à fortaleza.
— Liberdade! — gritavam.
Entre a fumaça dos mosquetes e o estrondo dos canhões, ele viu pela primeira vez a face da revolução. Homens e mulheres, famintos e furiosos, lutavam não apenas contra os soldados, mas contra séculos de opressão. Quando os portões caíram, Étienne sentiu algo novo: esperança.
O Sangue da Revolução
Nos meses que se seguiram, Paris transformou-se. A Assembleia Nacional declarava os direitos do homem, mas a fome persistia. Étienne, agora membro ativo do Clube dos Jacobinos, via os ideais da revolução serem disputados entre facções.
Foi então que conheceu Charlotte de Montfort, uma jovem aristocrata que havia renunciado ao seu título para lutar pela república. Seus olhos ardiam com a mesma paixão que os dele, mas suas origens a tornavam suspeita aos olhos dos radicais.
— A revolução devora seus próprios filhos — sussurrou Charlotte, quando viram o primeiro nobre guilhotinado na Place de la Révolution.
O Terror
Em 1793, a revolução escorregava para a violência indiscriminada. Robespierre e o Comitê de Salvação Pública governavam com mão de ferro. Qualquer um podia ser acusado de traição. Até mesmo Étienne, agora um soldado da Guarda Nacional, começou a questionar os excessos.
Quando Charlotte foi denunciada por um vizinho invejoso, ele enfrentou um dilema: obedecer à lei revolucionária ou salvar a mulher que amava.
— Se a liberdade custa inocentes, que revolução é essa? — perguntou-se, enquanto a noite caía sobre Paris.
O Preço da Liberdade
Na madrugada fria, Étienne ajudou Charlotte a fugir, escondendo-a entre os cadáveres dos condenados. Mas a traição não ficaria impune. Um ex-companheiro jacobino o denunciou, e logo ele próprio estava diante do Tribunal Revolucionário.
— Morrerei pela França, — declarou, orgulhoso, mesmo sabendo que a França pela qual lutara já não existia.
Na manhã de sua execução, o sol brilhava sobre Paris. Enquanto a lâmina caía, uma última palavra ecoou em seus lábios:
— Liberdade...
Epílogo
Anos depois, Charlotte, agora exilada na Inglaterra, olhava para o mar, segurando um pequeno livro que Étienne lhe dera antes de morrer—"Os Direitos do Homem", de Thomas Paine.
A revolução continuava, mas seus verdadeiros heróis eram aqueles que, como Étienne, haviam sonhado com um mundo melhor, mesmo quando o mundo os traía.
Fim.
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