A Noite dos Espelhos: Terror
A noite estava fria e silenciosa, o vento soprava através das frestas da janela da casa de Ana. Era a primeira festa do pijama que ela organizava, e suas amigas estavam animadas. Júlia, Carol e Bia trouxeram cobertores, lanches e histórias de terror para contar.
O quarto estava decorado com luzes fracas e travesseiros espalhados pelo chão. No canto, um espelho grande e antigo chamava atenção. O objeto não pertencia à casa de Ana; sua avó o trouxera de uma antiga propriedade da família, avisando para nunca usá-lo. Era um espelho de moldura dourada, desgastada pelo tempo, e o vidro parecia sempre embaçado, mesmo quando limpavam.
Entre risadas e desafios, Júlia sugeriu um jogo: "Vamos fazer o ritual do espelho! Dizem que se você apagar as luzes e repetir seu nome três vezes diante do espelho, algo pode aparecer."
Carol revirou os olhos. "Isso é só lenda urbana."
Bia, sempre corajosa, foi a primeira. Ela ficou diante do espelho, apagou as luzes e repetiu seu nome. Nada aconteceu. Todas riram e se provocaram, até que Ana, relutante, foi desafiada a tentar.
Quando Ana ficou diante do espelho e repetiu seu nome três vezes, o silêncio na sala se tornou denso. As velas piscaram, e uma névoa fina começou a se formar no vidro. Seu reflexo pareceu se mover de forma independente, atrasando os gestos. A sensação gelada percorreu sua espinha. Então, seus olhos no reflexo ficaram negros como a noite.
Um arrepio percorreu o grupo. "Ana, para de brincar", disse Júlia, sua voz trêmula.
"Eu... Eu não estou brincando", Ana sussurrou.
Seu reflexo sorriu de uma forma que seu rosto real não acompanhava. As luzes piscaram mais uma vez, e um som de estalo ecoou pela sala. O vidro trincou levemente no canto superior.
O pânico se instalou. Carol correu para acender as luzes, mas o interruptor não funcionava. O espelho continuava mostrando a imagem de Ana, mas ela já não se reconhecia. Algo dentro daquele vidro estava observando todas elas, e, aos poucos, começou a sair do espelho.
A sombra esguia que emergiu da moldura tinha os olhos negros e um sorriso distorcido. Ela sussurrou palavras ininteligíveis enquanto se aproximava. As meninas gritaram, e Júlia agarrou Ana, tentando afastá-la da frente do espelho. O reflexo sombrio imitou seus gestos, mas agora, do outro lado, uma versão distorcida de Ana batia contra o vidro como se estivesse presa.
Bia teve um impulso e pegou um objeto pesado, jogando contra o espelho. O vidro estilhaçou-se em mil pedaços, e um grito gutural ecoou. A sombra desapareceu na mesma névoa escura que havia surgido.
As luzes voltaram, e o silêncio se instalou novamente. As meninas estavam ofegantes, tentando entender o que aconteceu. Ana olhou para os pedaços de vidro no chão. Seu reflexo estava lá, mas parecia... normal.
"Nunca mais vamos fazer isso de novo", disse Carol, ainda tremendo.
No dia seguinte, Ana contou para sua avó o que aconteceu. A senhora apenas suspirou e murmurou: "Eu avisei que esse espelho não deveria ser usado. Algumas portas, quando abertas, nunca se fecham completamente."
Naquela noite, Ana sentiu um arrepio ao passar pelo espelho quebrado. Por um breve momento, jurou ter visto algo se mover entre os cacos espalhados pelo chão.
E o pior: o reflexo ainda sorria.
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