Entre o Passado e o Amor
A chuva caía fina sobre as ruas de paralelepípedos do pequeno vilarejo de Montalegre, um recanto escondido entre as montanhas. Clara apertou o cachecol contra o pescoço, observando as luzes amareladas das casas se refletindo nas poças de água. Não era a primeira vez que voltava ali, mas tudo parecia diferente agora. Talvez porque ele estivesse de volta.
Miguel havia sido sua paixão de adolescência, o primeiro amor que deixara cicatrizes profundas quando partiu para estudar na capital. Durante anos, Clara aprendeu a conviver com a saudade, guardando no coração lembranças que julgava inatingíveis. Mas agora, com Miguel retornando à cidade após dez anos, aquelas memórias voltavam a pulsar em sua mente.
Ela soube de sua chegada através de um velho amigo em comum. "Ele mudou", disseram. "Não é mais aquele garoto que você conheceu." Mas, para Clara, a curiosidade e a esperança superavam qualquer advertência.
No café da pracinha central, Clara se viu cara a cara com Miguel. Ele trazia nos olhos um brilho familiar, mas o rosto denunciava as marcas do tempo e das experiências. O sorriso foi tímido, quase hesitante, mas, quando ele falou seu nome, ela soube que nada tinha realmente mudado entre eles.
Conversaram por horas, relembrando os velhos tempos, rindo das travessuras de infância e compartilhando suas trajetórias. Miguel falava sobre as dificuldades e sucessos que encontrou longe dali, enquanto Clara narrava como escolheu ficar e construir sua vida em Montalegre. Mas, por mais que as palavras fluíssem, uma pergunta pairava no ar: por que Miguel voltou?
Os dias passaram e, aos poucos, Clara percebeu que o destino os empurrava novamente um para o outro. Caminhadas noturnas sob o céu estrelado, encontros casuais na feira do vilarejo, conversas que se prolongavam até a madrugada. Era como se o tempo tivesse esperado para que pudessem se reencontrar no momento certo.
Entretanto, o medo também se fazia presente. E se Miguel fosse embora outra vez? E se tudo não passasse de uma ilusão passageira? Clara temia reviver a dor da despedida. Já havia se acostumado com a ausência dele uma vez, mas suportaria uma segunda?
A resposta veio numa noite de festa na cidade. Entre danças, músicas e risadas, Miguel segurou a mão de Clara e a puxou para um canto mais tranquilo. "Não vou embora desta vez", disse ele, os olhos refletindo a promessa que seu coração fazia. "Voltei porque percebi que nenhum lugar no mundo faz sentido sem você."
Clara sentiu o coração disparar. As inseguranças tentaram sussurrar em seu ouvido, mas ela as silenciou. Afinal, o amor sempre encontra seu caminho de volta. E, naquele momento, sob as estrelas de Montalegre, ela soube que estava exatamente onde deveria estar: nos braços de Miguel, entre o passado e o amor que, finalmente, os reencontrara.
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