A Garota de Pedra
O vento frio sussurrava entre as ruínas de Eldoria enquanto Lia corria pela floresta sombria, os pés descalços roçando contra o solo úmido. O coração batia forte em seu peito, não apenas pelo esforço, mas pelo medo crescente que a consumia. Sua irmã, Alina, estava desaparecida, levada por aqueles que a maldição da Pedra cobiçava.
Há gerações, uma força sombria assolava o reino de Eldoria: a Maldição de Piedra. Alguns diziam que era um castigo dos deuses, outros acreditavam que fora um feitiço esquecido de antigos magos. O que se sabia com certeza era que aqueles atingidos pela maldição se transformavam lentamente em estátuas vivas, seus corpos se tornando frios e rígidos até que restasse apenas pedra.
Lia vira os primeiros sinais em Alina semanas atrás. Pequenas manchas acinzentadas surgiram em sua pele, endurecendo a ponta dos dedos, subindo pelo braço como raízes cruéis. O tempo corria contra elas. Desesperada, Lia partira em busca da única esperança que restava: a Fonte de Elnora, um lago sagrado escondido nas Montanhas Nebulosas, cujas águas podiam quebrar qualquer feitiço.
Mas o caminho era traiçoeiro. Criaturas das sombras patrulhavam as florestas, e os Guardiões de Piedra caçavam aqueles que ousavam desafiar a maldição. Lia sabia que precisava ser rápida, ou sua irmã seria levada para sempre.
Ao chegar ao vilarejo de Terravasta, encontrou o velho mago Erion, um dos poucos que ainda possuía conhecimento sobre a Maldição de Piedra. Ele olhou para Lia com olhos cansados, mas repletos de sabedoria.
— Você busca a Fonte de Elnora, criança — disse ele, segurando um pergaminho envelhecido. — Mas saiba que a jornada será árdua. O caminho até a fonte é guardado por enigmas e perigos ancestrais.
Lia respirou fundo. O desespero por Alina era maior do que qualquer medo. Com o mapa em mãos, seguiu viagem, adentrando montanhas onde a névoa se enroscava como serpentes ao redor das árvores antigas.
Dias se passaram, e a maldição em Alina avançava. Lia sentia o peso do tempo e a dor da incerteza. O silêncio das montanhas era quebrado apenas pelo som de seus próprios passos e pelos sussurros dos espíritos que protegiam a fonte. No topo da montanha, diante do lago cristalino, a garota encontrou sua última prova: o Guardião de Elnora.
Uma criatura de pedra viva, esculpida em forma humana, surgiu do nevoeiro. Seu olhar brilhava com luz espectral, e sua voz ecoou como trovão.
— Para salvar sua irmã, deve oferecer algo em troca — disse ele. — O amor exige sacrifícios.
Lia sentiu o peso de suas palavras. O medo a agarrou, mas então olhou para sua irmã, que quase não conseguia mais se mover. Seu rosto já estava metade petrificado. Sem hesitar, Lia tocou a superfície da água e sussurrou:
— Leve-me em seu lugar.
A fonte brilhou intensamente, engolindo Lia em um feixe de luz prateada. O Guardião assentiu, e a água envolveu Alina, desfazendo a maldição. O corpo de Lia, no entanto, começou a endurecer, sua pele adquirindo um tom marmorizado. Com um último sorriso, viu a irmã se levantar, livre da maldição.
Anos se passaram, e Alina se tornou uma grande curandeira, ajudando outros a lutar contra a maldição. No centro da praça de Eldoria, uma estátua de pedra repousava — uma jovem de expressão serena e mãos estendidas como se ainda estivesse oferecendo seu sacrifício.
E assim, a lenda de Lia, a Garota de Pedra, ecoou através das eras, um conto de sacrifício, coragem e amor inquebrável.
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