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O Oráculo de Fogo

O Oráculo de Fogo

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Prólogo: O Dom de Prever


No auge do Império Romano, quando a glória e a ambição se entrelaçavam nas sombras do Colosseo e nos salões opulentos do Fórum, um jovem escravo chamado **Lucius** nasceu com um dom incomum — a habilidade de prever o futuro. Desde criança, ele percebia vislumbres do que ainda estava por vir: a queda de uma folha ao vento, a sombra de um lobo nas montanhas, a fragilidade das flores ao amanhecer. Embora sua mãe sempre o advertisse a manter essas visões em segredo, Lucius não conseguia ignorar o que via.


Ele foi vendido como escravo a **Gaius Flavius**, um senador romano ambicioso e astuto. Gaius logo percebeu que o jovem possuía um talento especial e começou a usar Lucius como uma ferramenta para seus próprios fins, mandando-o prever os resultados de batalhas e intrigas políticas, manipulando a sorte e o destino em seu benefício. As visões de Lucius tornaram-se a chave para a ascensão de Gaius no Senado, mas, para Lucius, esse dom logo se transformou em uma maldição.


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Parte I: O Jogo de Poder


As salas de Gaius eram um centro de intrigas, onde senadores e generais se reuniam, cada um buscando mais poder e influência. Lucius era frequentemente chamado para “ler” as possibilidades que cercavam as decisões que eles tomavam. Se um general precisava de conselhos sobre um ataque, Lucius sabia o que ver. Se um senador planejava uma traição, Lucius podia ver as consequências. A cada nova previsão, sua posição como escravo se tornava mais valiosa, mas sua liberdade se esvaía lentamente.


Numa noite quente de verão, enquanto a cidade de Roma vibrava com festividades, Gaius convocou Lucius para uma reunião clandestina. Entre os convidados estava **Marcus Agrippa**, um general respeitado e amigo de Augusto. O general estava planejando uma expedição para conquistar as tribos germânicas além do Reno, e o destino de muitas vidas estava em jogo.


"Lucius, meu jovem oráculo", disse Gaius, olhando fixamente nos olhos do garoto. "O que o futuro reserva para esta campanha? A glória nos espera, ou a ruína?"


Lucius respirou fundo, fechou os olhos e deixou as imagens virem. Ele viu a batalha; sentiu o calor do fogo, ouviu o clamor das espadas. Mas, em meio ao caos, uma visão chocante se destacou — ele viu seu próprio corpo caído entre os guerreiros, o sangue misturando-se à terra. Ele hesitou, mas sabia que precisava falar. 


"Senador, eu... eu vejo um grande conflito, e muitos cairão. Mas, Gaius, eu... eu também vejo a morte de um jovem escravo, um menino entre os soldados. Ele não deve ir."


O salão caiu em silêncio. Gaius franziu a testa, mas a expressão de Marcus tornou-se ansiosa. "Um sacrifício necessário", ele disse, como se entendesse que Lucius não se referia a outra pessoa senão a ele mesmo. Gaius se virou para Marcus, ignorando o aviso.


"Um oráculo como Lucius não pode ser desacreditado, mas o destino não se forma a partir de uma única visão. Ele deve ir", Gaius decidiu, sua voz cheia de poder.


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Parte II: A Resistência e a Revelação


Lucius ficou paralisado, lutando contra o desespero que o dominava. No entanto, havia uma parte dele que desejava lutar contra seu destino. Com o passar dos dias, ele começou a traçar um plano. Enquanto se preparava para a jornada, fez amizade com um grupo de soldados que também se sentiam inquietos com a guerra iminente.


**Tiberius**, um jovem soldado idealista, tornou-se um aliado inesperado. Ele também tinha uma aversão à guerra, sonhando com um futuro onde as pessoas pudessem viver em paz. Tiberius escutou atentamente as previsões de Lucius e prometeu ajudá-lo a encontrar uma maneira de escapar.


Certa noite, enquanto as estrelas brilhavam acima deles, Tiberius questionou Lucius. "Se você pode ver o futuro, não há como mudar o que está destinado?"


Lucius suspirou. "As visões são como correntes de um rio. O que eu vejo é apenas uma possibilidade, mas não uma certeza. Se encontrarmos um jeito de mudar a corrente, talvez possamos escapar desse destino."


Assim, os dois começaram a trabalhar em um plano para evitar que Lucius fosse para a guerra. Eles se embrenharam na floresta próxima, onde os soldados costumavam se reunir antes da partida, e Lucius, usando sua habilidade, começou a prever momentos de distração e confusão entre os homens, criando oportunidades para eles escaparem.


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Parte III: O Confronto


Quando a manhã da partida chegou, Lucius e Tiberius estavam prontos. Mas Gaius havia sido informado sobre o plano de fuga e enviou homens para interceptá-los. No último momento, enquanto os soldados se preparavam para partir, Lucius sentiu uma onda de terror percorrer seu corpo ao perceber que o destino já estava selado.


"É agora ou nunca, Lucius!" Tiberius exclamou, puxando-o pela mão. Eles correram em direção à floresta, mas foram cercados. Os homens de Gaius, armados e determinados, bloquearam o caminho.


"Você acha que pode fugir do seu destino, oráculo?" Gaius apareceu entre os soldados, sua expressão sombria. "Você é propriedade minha, e eu não permitirei que você escape tão facilmente."


O coração de Lucius disparou. Ele olhou para os rostos familiares dos soldados que conhecera e viu o mesmo pavor refletido neles. Ele percebeu que sua morte não seria apenas sua; afetaria todos aqueles que estavam com ele.


Desesperado, ele se voltou para Gaius. "Eu vi sua derrota! Se me matar, você será amaldiçoado! A guerra não trará a vitória que você deseja!"


Gaius riu. "Você acha que um jovem escravo pode intimidar um senador? Eu sou Roma, e a Roma que eu conheço não conhece fraquezas."


Foi então que Lucius, em um momento de clareza, sentiu a força de sua habilidade crescendo dentro dele. Ele se concentrou em sua visão, buscando não apenas o seu destino, mas o de Gaius. Ele visualizou a queda do senador, seu poder despedaçado, o povo se voltando contra ele. Com todas as forças, ele gritou: "Você está selando seu próprio destino! Sua ambição trará sua ruína!"


As palavras de Lucius ecoaram no ar como um grito de advertência. Um brilho flamejante iluminou o céu, e um tremor atravessou a terra. Os soldados hesitaram, e Gaius, apavorado, olhou para os lados. Um caos repentino se espalhou entre eles, e os homens começaram a correr, desesperados por escapar do que acreditavam ser uma maldição.


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Parte IV: O Sacrifício e a Liberdade


Com a confusão, Lucius e Tiberius encontraram uma brecha e correram pela floresta, mas o peso do que aconteceu ainda pesava em Lucius. Ele percebeu que as visões não eram apenas sobre seu futuro, mas sobre o impacto que suas escolhas teriam sobre os outros.


Enquanto escapavam, Tiberius disse: "Você não pode mudar seu destino, mas o que você fez hoje mudou tudo. A coragem que você teve... isso é o que importa."


Com o tempo, Lucius começou a entender que sua habilidade era um presente e uma maldição. Ele poderia prever eventos, mas não poderia controlar todos os resultados. Ele decidiu usar seu dom para ajudar os oprimidos, e não apenas para manipular aqueles que buscavam poder.


No entanto, a luta de Lucius não terminou ali. Ele e Tiberius se uniram a um grupo de rebeldes que lutavam contra a opressão dos romanos, onde Lucius usou sua habilidade para prever os movimentos das legiões e ajudar seus novos aliados a evitar emboscadas e traições.


No meio de tudo isso, Lucius finalmente encontrou um propósito — não apenas para si mesmo, mas para aqueles que precisavam de um oráculo que usasse seu dom para o bem.


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Epílogo: O Fogo que Arde


Anos depois, Lucius tornou-se um símbolo de esperança entre os rebeldes e uma lenda viva entre o povo. O garoto que era uma propriedade tornou-se um líder, e suas previsões guiavam aqueles que buscavam justiça.


No entanto, a sombra de Gaius ainda pairava sobre Roma, e Lucius sabia que, enquanto houvesse ambição e sede de poder, o destino sempre seria incerto. O fogo da resistência ardeu em seu coração, e, mesmo que o futuro fosse nebuloso, ele estava determinado a moldá-lo — não apenas para ele, mas para todos aqueles cujas vozes haviam sido silenciadas.


A história de Lucius se tornou uma lenda, um oráculo de fogo que nunca se apagaria, e cada vez que alguém olhava para as chamas dançantes, sentia


 que era um vislumbre de seu destino — uma promessa de que, mesmo diante das maiores adversidades, havia sempre uma escolha a ser feita.


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Fim 

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